Ave bala

Ao longe, ouço um som familiar

O som de pólvora seca

Uma ave de metal me espreita

Esperando a hora de me encurralar

E então, o som se repete

Dessa vez me encontro inerte

Sinto o peito acalorado

Cheiro de metal recém forjado

A ave bala me encontrou

De surpresa fui acometido

Pelo pesar de um Severino

Igual a mim, mais um perdido

Caio no chão, quase sonhando

Como se estivesse ainda de pé

E ali me deixam sepultado

Mais um Severino, seguindo a maré.

Em memória a João Cabral de Melo Neto.