Tronco.

De tanto as folhas crescerem

Chega uma hora em que o galho desce

Já não existem mais escombros sob a sombra

Há paz e alegria de sobra

Só quem chora é a chuva

Mas ela nem chove agora

Houve um tempo em que sobravam dias

Agonias normais

De tanto ver cairem as folhas

Chega uma hora em que ninguém repara

E de tanto sobrarem dias

As horas, feito feras, só se maltratavam

Não havia ombro onde chorar

Tinha o ar, que se movia

Tinha a chuva que molhava, indiferente

E de tanto ver crescerem as sombras

Chega uma hora em que os olhos secam

Broncos, endurecem tanto quanto o pé de amora

Hoje, quando a chuva chora, as folhas verdejam

E o coração, na paz de um tronco, parece até que nem se molha

Agora, a tudo carrega dentro de si

De modo, que todo aquele que passa e que olha, não veja.

Edson Ricardo Paiva.