DE VOLTA

Antes de atravessar a ponte da história, alguns encontraram a foto de um monstro largada ao chão, emolduraram e colocaram no meio da sala mais expressiva do lar de suas vidas.

Todo dia quando olhavam para o monstro viam o abismo olhando para eles.

A réstia de céu azul que restava foi dominada pelas nuvens negras e tudo escureceu de repente,

o sertão virou mar, o mar virou sertão.

Na sala de reunião o juiz encaminhou o mandado de prisão e foi alvejado pelo réu,

na saída do bar cultural uma pessoa é abordada por dois homens e convidada a entrar no carro,

o cigarro que estava na boca do rapaz na roda de música e poesia, foi apagado.

O grande cinturão se fecha.

Pessoas correm em meio à multidão,

crianças desesperadas à procura de abrigo,

todas as saídas fechadas, muro intransponível, de concreto armado.

Sonhei que as portas e janelas da casa em que morava davam para um poço profundo em volta.

Acordei e dei de cara com o pesadelo, desci mil metros, para onde eu estava há quinhentos anos.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 21/07/2020
Código do texto: T7012945
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.