DEU UM NÓ

Hoje fui dormir com uma espécie de novelo enleando meu cérebro.

Os fatos mórbidos: o lixo da praia, o odor retrógrado, a pele descascada,

a cratera emocional, o céu sem brilho.

Minha cabeça deu um nó e fui dormir para as manhãs que tudo cura.

Acordei e não senti saudade de ontem.

Estranho, a forma natural com que os seres deveriam se conectar, era

pra deixar saudades de ontem.

O dia que clareia parece estender sua luz para o despertar,

bem estar do que é novo renascer das manhãs de equilíbrio,

vontade, poder transformador.

Até que a noite nos apropria e impõe um cansaço à doce ilusão do que foi manhã.

O sono apaga a memória doída da turba em seus turbantes individuais.

Vem o sonho bailando em vários fios dourados, azuis, lilás, e com ele

a policromia da manhã que se irradia.

A chuva passa e arrasta a sobra do esgotamento do ontem.

A queda na bolsa invadiu portas, janelas, destruiu lares.

Hoje não consegui dormir, amanheceu sem sonho,

as asas não abriram o botão florido das manhãs.

À parte, viceja o anseio incontrolável de ver a multidão se doando

na bela paz edificante dos gestos.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 22/07/2020
Reeditado em 22/07/2020
Código do texto: T7013887
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