Começo, meio e fim

Eu quero, mas tenho receio

de saber exatamente onde é o meio

onde o fim do começo encontra o meio do fim

onde um lado espelha o outro, simplesmente assim.

Onde os dias que vem são numericamente iguais

aos que se foram e não voltam jamais

onde tenho pela frente o mesmo tempo que tive até aqui

onde já deixei de entrar e começo a sair

Meio-dia, meia-vida, meia-idade

o ponto da dobra perfeita, da simetria, exatamente a metade

o que passou se chama saudade

tatuada no corpo em rugas e cicatrizes da idade

O que vem se chama interrogação

benção ou maldição ? bálsamo ou provação ?

A troca do hemisfério, o cruzar do Equador, a inversão das estações

o entendimento das entrelinhas das canções

a maturidade, o surgimento do cansaço

em vez do beijo quente, o calor do abraço.

O outono dos sentimentos

o descartar metafórico das folhas em forma de momentos

a quantidade sendo substituída pela qualidade

os atalhos como placebo da ansiedade.

A alegria de viajar contrastada pela tristeza da chegada

Não dá mais para saltar no meio da estrada

num meio que não é o meio real numa existência sempre fracionada

um medo insano de que essa jornada não tenha valido nada.

A história aponta o começo, o marco zero

louca vida que parece um refrão de bolero

o fim é inevitável, não dá para fugir da única certeza

enquanto ele não chega deixe-me curtir toda sua beleza.

Esquecer no seu corpo datas e marcações

apenas deixar fluir intensamente a volúpia das paixões

afinal o místico amor é eterno e atemporal

nós passamos,voltamos ao início , mas ele nunca chega ao ponto final.

Ello
Enviado por Ello em 15/08/2020
Código do texto: T7035707
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