Começo, meio e fim
Eu quero, mas tenho receio
de saber exatamente onde é o meio
onde o fim do começo encontra o meio do fim
onde um lado espelha o outro, simplesmente assim.
Onde os dias que vem são numericamente iguais
aos que se foram e não voltam jamais
onde tenho pela frente o mesmo tempo que tive até aqui
onde já deixei de entrar e começo a sair
Meio-dia, meia-vida, meia-idade
o ponto da dobra perfeita, da simetria, exatamente a metade
o que passou se chama saudade
tatuada no corpo em rugas e cicatrizes da idade
O que vem se chama interrogação
benção ou maldição ? bálsamo ou provação ?
A troca do hemisfério, o cruzar do Equador, a inversão das estações
o entendimento das entrelinhas das canções
a maturidade, o surgimento do cansaço
em vez do beijo quente, o calor do abraço.
O outono dos sentimentos
o descartar metafórico das folhas em forma de momentos
a quantidade sendo substituída pela qualidade
os atalhos como placebo da ansiedade.
A alegria de viajar contrastada pela tristeza da chegada
Não dá mais para saltar no meio da estrada
num meio que não é o meio real numa existência sempre fracionada
um medo insano de que essa jornada não tenha valido nada.
A história aponta o começo, o marco zero
louca vida que parece um refrão de bolero
o fim é inevitável, não dá para fugir da única certeza
enquanto ele não chega deixe-me curtir toda sua beleza.
Esquecer no seu corpo datas e marcações
apenas deixar fluir intensamente a volúpia das paixões
afinal o místico amor é eterno e atemporal
nós passamos,voltamos ao início , mas ele nunca chega ao ponto final.