O Matema da Faltante

"Após um longo período de desencontro com meus escritos

volto aqui para destrinchar o mais ímpeto de meu ser-estar.

São 25 anos de uma vivência esdrúxula

de cunho patético

e cheio de culpa.

Culpa esta que sofro todos os dias para relembrar de onde veio

e para onde, provavelmente, estará...

Por mais bêbada, puta e poeta que sou

meus dedos se cansaram de provocar o teu amar.

De certo, sentada no breu da minha sala solitária e abafada

respingo um suor de alguém em meio a um frenesi da própria diáspora.

Estar num mundo que te enclausura

ao mesmo tempo em que se é um ser faltante

não é bem aquela utopia infanto-juvenil que costumava acreditar e esperar para os meus dias atuais.

Sinto falta de momentos e pessoas que sequer ainda conheci.

Sinto um gigante aperto no profundo que me diz todos os dias: “eis que aqui, essas pessoas, esses ares e dialetos, não são os teus... Estás num ambiente que não te abarca. Escapa-te!”.

Quem sabe, dentro deste matema

na configuração mais nua e crua da neurótica histérica

reconheço a minha falta. E graciosamente, uma falta que se torna também minha liberdade.

Porque preocupar-me em agradar

amar

solidificar

e entrelaçar

corpos que na primeira dialética da minha insubmissão

preferem se retirar e desrespeitar os limites que meus próprios olhos insistem em acusar?

O matema é faltante. A estrutura? Delirante.

Mas, com certa falta de maestria

quem sabes conseguirei largar a minha posição de teu objeto..."

alesnav
Enviado por alesnav em 26/10/2020
Código do texto: T7096694
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