A diarista.

5:oo hs ela levanta sonolenta e pega o filho de dois anos para deixar na vizinha e poder trabalhar.

A vizinha cobra 200,00 por mês, é barato, mas é fora a comida. ela leva mamadeira e a marmita. É o que pode e a vizinha precisa mesmo um extra.

Depois de dois ônibus onde termina de dormir mais um pouco, chega no prédio de luxo da madame.

Alegre, cumprimenta o porteiro que abre a porta pois já é conhecida. Cumprimentam-se, cúmplices de um mesmo destino, servir aos que podem para sobreviver.

Hoje é dia de festa, vai sair mais tarde, lá pela madrugada, mas garante um extra para ajudar na conta de luz atrasada.

Chegam os convidados, bonitos e arrumados, a sala vai ficando cheirosa, cheiros que ela não conhecia, melhores que os da farmácia da periferia.

Com o seu avental impecável, carrega bolsas e casacos para guardar no lugar adequado.

Com o garçom contratado, ela começa a distribuir as bebidas. A música é suave, descobre ali que pobre que gosta de música alta.

À medida que consomem o álcool, aumentam as risadas e as paqueras.

A comida é servida numa mesa finamente decorada, ela olha aquelas delícias e fica com água na boca, não deu tempo de fazer uma boquinha na cozinha com a cozinheira.

Beber até nem liga, o traste do ex marido gostava de cachaça, mas ela nunca bebeu.

E os convidados chiques, vão enchendo a cara e sujando a casa. A ela cabe servir e juntar as bitucas de cigarro largadas fora dos cinzeiros e encher copos que depois também serão derrubados sujando o tapete persa que ela vai ter que limpar.

A uma certa hora vai para a cozinha constrangida, pois ignorando sua presença começa uma orgia que ela nunca tinha vido na vida.

Todos se revezam na pegação. A madame já está jogada no sofá bêbada e descabelada depois de trepar com vários.

Ela e a cozinheira ficam fofocando, pois depois ainda terão que limpar toda a sujeira produzida.

Quando finalmente todos saem de Uber, e a patroa se recolheu ao quarto, ela começa a faxina na sala, recolhendo bitucas de cigarro, copos, comidas sobrando nos pratos, e para sua surpresa, camisinhas e calcinhas esquecidas.

Ela não tem marido e de vez em quando precisa liberar sua energia nas noites insones, buscando o prazer solitário.

Chama o seu uber pois que a patroa liberou o dinheiro por questões de segurança devido ao horário tardio.

Agora resta pegar o filhinho na vizinha e voltar para casa.

Amanhã vai trabalhar em outra casa, mas pelo menos não terá festa.

Amanhã será um dia igual a ontem e igual ao de depois de amanhã.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 06/12/2020
Reeditado em 07/04/2022
Código do texto: T7128722
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.