Graça do viver

Quando mais jovem, pensava

Que sorrir de graça, pelo nada

Era puro sinônimo de loucura

Mas o tempo me mostrou, do próprio jeito

Que independente do que me tenha feito

Não existe um melhor jeito

De manter-me ainda são

Fazendo graça do fracasso

De ser vencido pelo acaso

De ser dobrado e desdobrado

Pelo próprio reflexo embaçado

De não ver que a beleza bruta

Está na brutalidade bela

De viver a vida crua

Temperada apenas pelo sangue

E com uma pitada de sal

De moldar o acaso para que seus amores se sobressaiam

Para girar ao som das músicas que não se ensaiam

Para entregar o coração ao sentimento que não se vê

De ser parte de uma peça que ninguém pode reescrever

De não ver alem do seu defeito

Que o natural, é imperfeito

E que daí nasce a sua perfeição

De temer ao estender a mão

Para se agarrar a própria paixão

De respirar o tempo, de sentir o chão

De ser o ser que se espera do outro ser

Para encontrar em si o que as chuvas nunca lhe trarão.

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 18/04/2021
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