Transparente coração

Estou perdendo minha forma

Estou rompendo minha forma

Molde este que eu mesmo me dei

E agora já não consigo me adequar

Nas veias cristalinas naturais

Correm amarguras de mil origens

De mil tempos; mil momentos

Tenham sido eles vividos ou não

Não por mim, nem por outro eu

Mas algum de fora que vem a se anexar

Que profana o brilho daqueles cristais

Cuja beleza se mantém à um fio da morte

A ruptura; a inexistência

Em cem mil fragmentos, ou em nenhum

Esses cacos soltos não podem ser coisa alguma

Mas com todos juntos, também não sei quem sou

E se do fim vem o descanso

Talvez ele seja o meu desejo

E se do recomeço vem a paz

Talvez ele seja o meu sonho

Um sonho onde após outra pancada

Cravada funda da rocha sólida

ao invés de soterrado sob a minha busca

Eu acabe por me encontrar do outro lado

Me encontrar, por inteiro

Sem estranhar a incomum visão

De me ver nas cores duras, mas alegres

Refletidas em algum cristal que se perdeu

A minha pedra preciosa

Inlapidável, inestimável

Enterrado sob mil mistérios

O meu transparente coração

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 20/04/2021
Código do texto: T7236925
Classificação de conteúdo: seguro