O QUE NÃO SE PERDE

Perdi meu pai, minha mãe,

algumas coisas materiais pelo caminho,

umas folhas amassadas com velhos poemas,

deixei cair versos que se infiltraram na grama,

olhei para trás, viraram árvores com palavras

penduradas, lidas pelos pássaros passageiros...

O que tenho?

Coisas que escolhi para viverem comigo,

que envelhecem e vão embora,

coisas que a gente nem repara,

um par de chinelos gastos,

a velha camiseta, o relógio

quebrado, o pão mofado...

Resta o que não perde seu valor,

algo que vive dentro das veias,

corre e não morre, sangra,

passem segundos e séculos,

que todos pronunciam, sentindo,

a palavra viva chamada amor...