Agridoce, isso que a vida é

assisti novamente o último filme de

para todos os garotos que já amei

e mais uma vez não contive as

lágrimas que desceram desenfreadas

porque é impossível não trazer à tona

uma comparação com a vida real

nasci e me criei na mesma cidade

e ainda estou presa aqui

não fui embora como sempre quis

na infância os meus fins de tarde

e de semana pertenciam às minhas

amigas que moravam na mesma rua

nós assistíamos a filmes e comíamos

brigadeiro e nos sentávamos no murinho

da casa de uma delas e procurávamos

as três marias no céu para

confidenciar nossos pedidos

hoje uma delas se mudou para a

cidade vizinha e por incrível que pareça

nós nos vemos mais do que eu vejo

àquela que ainda é minha vizinha

na adolescência e no ensino médio

apesar de nos vermos todos os dias

eu e minhas amigas ainda precisávamos

nos ver aos finais de semana e

se não havia nenhuma festa

nós inventávamos noites do pijama ou

jantas porque ficar sem se ver era incogitável

uma delas se mudou para outro estado e

quanto às demais

passamos muito tempo sem se ver e

sem fazer questão eu sei lá por que

mas hoje nós estamos consertando isso

e vou fazer de tudo para que não nos

afastemos novamente porque a importância

que elas têm na minha vida é demasiada

mas não importa o quando nos esforcemos

nunca vai ser a mesma coisa que era

como no tempo da escola e é tão difícil

quando a gente para para pensar que

tudo na vida são fases e que em

todas elas há despedidas

para seguir a diante alguma coisa

tem de ficar para trás e deixar algo para trás

sempre dói tanto

e eu queria tanto que pudesse doer menos

é que é tão difícil saber que

algumas coisas nunca vão voltar

a ser como eram e só restam

as lembranças e a saudade

e por falar em saudade

não faço ideia de quando vou ter

coragem de assistir novamente

o vídeo da minha formatura do

ensino médio porque meu amigo

que perdi em um acidente de carro

vai estar lá, alguém vai ler o nome dele

e ele vai se levantar da cadeira e caminhar

na direção do palco para receber seu diploma

olhará para nós e sorrirá, comemorando

e é só assim que nós ainda vamos vê-lo

porque ele se foi para sempre e essa

é mais uma coisa que nós nunca

poderíamos imaginar

algumas das minhas amigas de infância

já estão morando junto com os namorados

minha prima que já é noiva

aquela que me ensinou a desenhar

que me dava suas roupas que não serviam mais

e para quem eu segurei vela no início do namoro

logo vai construir a casa própria e

é tão louco pensar em todas essas coisas

em como o tempo vêm voando e no

quão rápido nós crescemos

e é óbvio que é inevitável derramar

lágrimas torrenciais ao pensar em tudo isso

porque, apesar de eu ser uma manteiga derretida

que não precisa de muito para chorar

tudo que já falei aqui é muita, muita coisa

e cada uma dessas coisas é tão intensa

e assim como as lágrimas

é inevitável pensar que vou ir em diversas formaturas

mas ninguém vai na minha

porque eu não vou ter uma

porque eu não estou sequer estudando

vou me despedir várias vezes enquanto queria

que também fosse eu àquela indo embora

todas as vidas estão andando e eu fico tão feliz

por todos eles e me sinto tão privilegiada por

ser mantida por perto para acompanhar

e comemorar e ajudar

mas a minha vida parece estagnada

nos encontros com os amigos eu nunca

tenho nada de novo ou grande para contar

e eu queria tanto ter

mas não há nem sequer uma previsão

de algo bom que esteja vindo

no entanto

me recuso em perder a fé nas surpresas

mas por enquanto é só isso mesmo

somos só eu e meu grande sonho

agridoce

é isso que a vida é

então eu quero desfrutar dos

momentos que são

unicamente doces

tanto quanto eu puder

-Milena Farias

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Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 06/06/2021
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