Desdém particular

Já há muito não te vejo

nada me convence a encarar o espelho

fujo da tua voz, com receio

como se meu fim viesse logo ao ouvi-lo

nosso tempo, fora dos trilhos

já não tem mais estação para chegar

no palco vazio, não fazem falta os aplausos

quando o artista já não espera os escutar

seu suspiro sozinho, narra

mostra mil histórias de inocência ingênua

seu suspiro após longo choro, ilustra

conta um alívio de tormentas que lutamos para queimar

o pobre ventríloquo, balança suave

na sua cadeira favorita, por ele escolhida a dedo

sob pilhas e pilhas de privação

esquecido de propósito, pelo bem de um forasteiro

de que adianta, a partir do próprio sangue

projetar mudança que de dentro não se vê?

para ser alguém que em verdade, sempre fomos

ou mesmo alguém que nunca precisamos ser

não mais te espero, não mais te busco

caminho sem ti como sempre caminhei

se sua vontade me encontrar, que seja longe

pois minha própria vontade, logo logo esquecerei.

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 20/07/2021
Reeditado em 20/07/2021
Código do texto: T7303715
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