Príncipe leiteiro

A buzina percorria o trajeto do vento

Uns duzentos metros nadando no ar

Penetrava meus ouvidos atentos

Hora de pegar a panela

Para o homem do leite encher

Com leite fresco, da teta da vaca.

Ele vinha de charrete

O cavalo trotava lindamente

Pisoteando o calçamento antigo

Num ritmo cadenceado e elegante.

Numa manhã tomei coragem

Esperei no portão

Queria chegar antes do som

Que disparava o reflexo de buscar a panela.

Queria ver o homem apertar a bolinha de borracha

Queria sentir o percurso do som

Na goela da corneta metálica.

Corri até lá, à altura da jaqueira

E pedi ao homem mais que leite

Mais que panela cheia

Queria andar na charrete mágica

Que era como uma carruagem

Dos contos de fadas.

Ao subir senti que era uma princesa

E o homem do leite um príncipe velho, mas encantado.

Trotando por duzentos insignificantes metros

Para que a garotinha sonhasse

Pelo resto do dia

Pelo resto da vida!

Me esqueci do leite,

Me esqueci de tudo

Mas essa memória

Recuso-me a esquecer.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 13/08/2021
Código do texto: T7319785
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