A pá que move o moinho.

Baila, tempo.

Corre pra longe

Morre em outra dimensão

Vai lá, nos confins da última madrugada

Mostra o nada que são nossas vidas

E depois volta pra cá

Vem mais depressa que a luz

E depois nos entrega

A cada qual nossa cruz

A cada mal que se oculta

Em cada bem que carrega

Vem pra perto e se desfia

Desfila o nada bem diante dos nossos olhos

Nossos duros e imaturos corações

Quem sabe, assim que se enxerga

O quanto é incauto quem te desafia

Cada qual com sua bússola insular

Que faz perder, que desnorteia

Às vezes um soar de sino

Anunciando o sândalo da noite

Tu, que és tão forte, que derrete a neve

De sorte que cada segundo passa a ser tão breve

Leva contigo a marca da idade deste mundo

Só tu tens lugar no sem fim

Desembarca, tempo

Conta pra nós nossas vidas

E baila e dança e não descansa e depois volta

Vai lá, tempo velho e nos desaponta

Desponta lá no longe

Afronta esse universo e cada estrela sem porteira

Sem eira nem beira e tribeira e tão rico e tão leve

Livre, como o sol da primeira manhã

Tão forte, que move o moinho que mata a fome

Não negue que mata o homem que mata a morte

Leva minha vida nas mãos

Vai, que eu fico igual a todos

Entregue à própria sorte.

Edson Ricardo Paiva.