Relato da Vida

Capítulo I

Sexta-feira, feriado prolongado, noite quente

Sem nada pra fazer

Estou aqui no Centro Cultural São Paulo

buscando inspiração para viver e sobreviver

mesmo estando sozinho

Bem melhor do que ficar trancafiado em casa

no maior tédio e ainda por cima

aguentar a falação de familiares

que nem por um segundo fecham a matraca

Sem pensar duas vezes, peguei minhas coisas e fui!

Fico pensando no que será pior

Familiares chatos e pentelhos ou a falta de dinheiro?

Enquanto não encontro a resposta, fica aquela máxima:

Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão

E amanhã é meu aniversário vai vendo

Vai ser daquele jeito....

que eu não gostaria que fosse

E quem iria gostar se estivesse em minha pele?

Sem emprego, sem dinheiro, destacado dos rolês, distante dos amigos, desmoralizado

Comemorar o quê afinal?

Pobreza e exclusão social não inspira festa

Só me resta tentar sobreviver e pedir a Deus

força e esperança para lutar em meio à desesperança

Coragem para resistir e proteção contra todo tipo de pessoas

Porque os CÃES são mato e a matilha está furiosa!

Mesmo assim, sigo sonhando, oh que coisa louca!

Capítulo II

Enquanto escrevia a chuva tava rolando

Agora que parou, o tempo ficou bom

Posso sentir o ar fresco de novo

Pelo menos isso é de graça na cidade controlada pelo dinheiro

As horas vão passando, as pessoas estão se retirando

E eu aqui na maior viagem literária

mergulhado nos versos

A poesia é como uma piscina para mim

Quando o clima tá quente, mergulho nela pra me refrescar

Como água medicinal tem sua função terapêutica

Se não acredita, te convido a experimentar

Numa época tão quente como essa,

não posso acreditar que as pessoas estejam tão frias

Alguns já estão mortos e não perceberam

O Walking Dead é aqui!

Todo dia me deparo com milhares de zumbis

Vivem como se não estivessem vivendo

Outros totalmente programados, agem como robôs

O homem programou a tecnologia ou a tecnologia programou o homem?

Ah! Tristes tempos em que a humanidade está em extinção!

Falar de amor, sentimentos, romance

chega até ser hipocrisia

Confiança?

Perigoso demais!

Fraternidade, solidariedade, vida em comunidade, tolerância, respeito

soam como termos ofensivos para muitos,

alguns sentem até nojo ao ouvir essas palavras

Pra esses a palavra EU é mais bonita

Alienado por natureza ou conveniência, eu não nasci

Agora, se a grande maioria age dessa maneira, fazer o quê?

Pois nunca fui adepto da revolução sem mudança

Capítulo III

Lendo minha própria poesia, acabei fugindo do tema

Fiz uma tremenda viagem

E agora procuro juntar as ideias

além de dar um fim para esse poema

Só que não consigo!

Pois bem, enquanto nada vem

Paro por aqui, deixando para o próximo capítulo

É hora de ir embora, porque o Centro Cultural vai fechar.

(2017)