Hecatombe

Giram cadeiras, pedaços,

Escombros sobre sua cabeça.

O teto flutua, as telhas soltas

Vagueiam no canudo de vento preto.

Nada permanece.

É sombrio o tornado que leva embora

As coisas, as casas, as pessoas,

O entorno. Nada permanece.

A vida vai sendo sacudida, o cenário é caos, a manhã enegrece.

Relâmpagos assombram o dia

E as coisas deixam de ser ao capricho da mãe-tinta.

Tudo é revolvido, nada permanece.

A riqueza que ela teve vira pó,

O sentido da terra vira charco,

A destruição golpeia o mais forte dos homens, a mais prometida semeadura,

O gole limpo da fonte.

Nada permanece.

A hecatombe se avizinha

O terror se alastra,

A morte toca faces, ceifadora faz seu tempo. Nada, nada permanece.

O palimpsesto é rasgado, as tramas do tempo se rasgam no templo,

As dores se evaporam nos uivos,

A vida evade, nada permanece.

Um silvo espalha a notícia atômica,

As peles se desprendem dos ossos,

Os olhos saltam das orbes,

O chão é precipício

O tombo é norma.

Nada permanece.

No vazio do mundo só ela permanece

Em sua concha de solidão.

Não se viu ser levada, não notou seu sobrevoo de morte, não ouviu os ruídos de fim.

Esteve todo o tempo trancada em seu mundo de ideias abissais,

Sua hecatombe particular não teve começo e jamais terminou.

Ela escrevia o roteiro do fim do mundo, enquanto o mundo findava.

Estava deliciosamente banhada de caos, sentindo as gotas ácidas da morte sugarem-lhe o colo,

No fim ela sabe que nada permanece, mas permaneceu incólume, até chegar seu fim.