Estou com saudades

De alguém que nunca vi

Dos olhos que jamais olhei

Do encontro que não aconteceu

Das mãos que nunca segurei

Do abraço não dado

Do rosto cujas mãos passei

Da vergonha não passada

Do peito nunca ardido

Do respirar ofegante

Do coração iludido

Do presente nunca dado

Do sorriso concedido

Do pensamento indagando

Do título conquistado de forma imperativa

De ser o que nunca fui

De mover a história em sua roda viva

Dos aplausos não recebidos

De quem na hora do combate, jamais se esquivou

De ter sem nunca tido

Dos versos na mente pairando

Da risada sem sentido

Do espírito brando

Do viver descompromissado

De braços e mãos empunhados lutando

Das histórias encantadas

Dos meus pés fugindo da ignorância

Das marcas cravadas em mentes e corações

Do inimigo enfurecido de inveja rugindo

Do sol que nunca brilha

Das ondas do mar indo e vindo

Do verão que meus olhos nunca verão

Da primavera que me anima arrancar a erva daninha

De fazer algo não tão relevante no outono

Da decisão em que o poeta tem o voto de minerva

Da amizade não rompida no inverno

Da poesia que grita para o sistema: Eu não sou tua serva!

(2022)