ENCARNAÇÃO

Antes de eu nascer pedi ao sol

que consumisse minha alma

até que regressasse ao pó,

clamei ao cosmo em sua palma

que rareasse minha poeira

planeta por planeta

e apagasse a luz de cada estrela

pra não perseguirem meu rastro.

Implorei que mentissem meu paradeiro,

suspeitei, incontido, vindouro cativeiro,

de tudo quanto pude fugi do claustro.

Até que Deus, iracundo, me encontrou

e sequestrou todo meu esquecimento.

Fui ao ventre da mãe que me gestou

e desde então foi frio meu sofrimento,

a carne em constante decaimento,

a mente atulhando aborrecimento.

A dádiva é só boleto, a vida seca

é gana, grana, gozo, gula,

a alma, neste corpo, é dor intrusa,

aguarda o fim clemente da sentença

para o regresso ao justo olvidamento.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 17/04/2023
Código do texto: T7765936
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