Ávida vida.

Era noutra vida

Numa dessas que se vive

Ainda hoje há quem diga

Espera era uma perda

Era pressa o que se tem

Leveza a soprar como a brisa

A vida trazia um nada

e me dava um não

Eu pedia esperança e perdia

A melhor amiga, solidão

Conselheiro, o silêncio

Confiança, uma pedra na mão

O caminho, uma seta

De concreto na vida, era só traição

Era noutra vida

Uma dessas que se vive

e há quem liga

Primavera, acordar cedo

Só te apressa, o tempo tem

A beleza é correr a ladeira

A vida levava tudo

E me dava um chão

Eu me dava um descanso e perdia

O meu único amigo era um cão

Conselheira era a fome

Confiança era pão

Meu caminho, uma estrada concreta

De concreto, esperança

Era noutra vida

Numa dessas que se acorda

Sem ninguém

E também nada espera

Nessa não tinha pressa

Não tinha brisa

Nem vento a trazer tempestade

Não tinha mentira e nem verdade

A vida não levava e não trazia

Não havia mais pés pra correr a ladeira

Meu melhor conselheiro, o passado

O meu porto seguro era o chão

De concreto, as cicatrizes

Minha amiga, risadas felizes, a paz

Meu caminho: eu tanto o fiz, que tanto faz.

Edson Ricardo Paiva.