Sem maquiagem

Mesmo que cresça, me faz criança.

Mesmo pessimista, me traz esperança.

Sempre atrasado, mas nunca paciente.

Mesmo acordado, o sonhar é permanente.

Depois da tempestade, dizem vir a bonança.

Quando se acostuma à chuva, o seco gera insegurança.

Não sinto o que todos sentem, isso eu nem tento.

Mas vejo o que eles não veem, vivo desse jeito.

Na falta de sentido, fico encucado.

Quando me julgam, não sei ser educado.

Alguns até tentam, mas a tarefa se torna árdua.

Não sei ficar parado, a vida é fluida como a água.

O autismo não me faz sofrer, as pessoas sim.

Sem nunca me entenderem, passaram por cima de mim.

Sigo tentando e seguindo, desistir não é opção.

Às vezes me sinto bem, só por saber que estou na contramão.

Nessa vida, acho que ganhei mais que perdi.

Mesmo sentindo que chorei mais do que sorri.

Apesar de ter sempre esse sorriso contumaz.

Ninguém vê o que a máscara esconde detrás.

No fim das contas, a solidão é amiga do palhaço.

Um sorriso na maquiagem e um coração em pedaços.

Sem picadeiro e sem platéia, as luzes se apagam.

Fica ele pensativo, se melhorou a vida dos que gargalhavam.

No fundo mesmo, ele sabe que será assim para sempre.

Nunca sem tropeçar, mas sempre seguindo em frente.