Azul, agridoce e ambíguo
Arremessado por todas as forças para dentro do azul da noite.
Para além da inefabilidade inexpressiva dos lábios.
Desenho no ar uns gestos com minhas mãos frágeis.
As linhas, os dedos, a grossura das mãos de um primata rude.
Cônscio já das minhas certezas incertas e da beleza muda, sem atitude.
Que me ilude, e que não há quem estude, e que me atravessa.
E me invade, e me rasga, e me resgata, e me traduz.
E se traduz, em asas para mim. Me tira do chão e me faz alçar vôo.
Vôos! Imprevisíveis, que eu não sabia serem possíveis para mim.
Vôos revoltos, vôos rebeldes; o que importa é gente descontente,
Música acesa, noite alta; para o coração selvagem do que é, agora.
Do que é em mim, do que eu sou, rotineiramente à beira do caminho que passo.
A beira do caminho é um monstro, é a noite, é um convite – Azul.
Agridoce e ambíguo: “Abandona já, de uma vez…”
Enquanto o tempo permite!