Crônica curta

Eu nasci comunista.

Na minha infância, tudo era comum. No quintal da minha casa tinha um pé de abacate, um pé de laranja e um pé de cana. Quando eles frutificavam, a minha mãe pedia para que a gente distribuísse com os vizinhos os frutos que, com certeza, nós não daríamos conta de comer.

Nas brincadeiras com os outros meninos, deixávamos que eles brincassem com os nossos brinquedos. No futebol no campinho, cada dia um coleguinha levava a bola para jogarmos.

Na escola, quando um aluno da nossa sala esquecia o lápis ou o apontador, a gente emprestava o nosso. Quando esqueciam o livro, nós íamos juntos.

Antes de termos uma televisão em casa, assistíamos aos nossos programas prediletos na casa do vizinho. Quando papai comprou a nossa primeira televisão, alguns vizinhos vinham à nossa casa para assistir.

Quando os nossos sapados ficavam apertados, ainda novos, doávamos para algum menino que não tinha sapatos.

Em janeiro, papai plantava milho no nosso quintal. Na época da colheita, era uma farra. Mamãe fazia mingau de milho-verde, pamonha e outros, os vizinhos que não tinham quintal para plantar agradeciam a gentileza.

José Marcos Ramos
Enviado por José Marcos Ramos em 09/03/2024
Código do texto: T8015862
Classificação de conteúdo: seguro