Há quem se arraste pela vida morta.

Tem dia que amanhece antes de clarear

Coração se despe

e se despede de toda agonia

Pra que nosso espírito se apresse

Ditos se fazem não ditos

Olhos se comprazem olhar a rua

E não tem nada diferente

Coração bate apressado

Segura, d'álma nua as mãos aflitas

Ambos se entreolham

Compreendem, de repente

Quem mudou foi a gente

A vida fica mais bonita assim

Há quem creia isso desimportante

Meu compromisso é comigo

Olhos, almas, mãos, meu peito, abrigo

Há quem queira abreviar o fim

E há quem queira olhar a noite

Saber que o sol se levante

Quero só me despedir do mal que houver em mim

Tem vida que termina igual

Numa esquina de um momento

Um vento frio de agosto

Tem dia que começa igual

Luz do dia vem vazia de algum modo

e nada muda

Não tem sonho bom que nos acuda

Não existe ilusão que, por melhor que seja, iluda

Até que um dia alguma coisa...tudo

Há quem julgue que isso pouco importa

Vai, se arrasta pela vida e arrasta a vida morta

Sem o olhar que lhes convide a perceber

A vida abandonou-lhe um dia

Chão sem céu, sem luz de estrela-guia

Vida voa, vai no vento e corta e volta

Vem, se despe de tanta agonia

Então, depois se apresse

Tem dia que amanhece antes de clarear

Mesmo que pareça tudo igual eternamente

Alguma coisa não amanheceu

Isso torna tudo muito diferente.

Edson Ricardo Paiva.