Feminologia do mundo: Origem da vida em ode e transe
Cobre rosa no meio das romãs
Sumo de maracujá do fruto da maçã
Vislumbre de sonho, portal das deusas pagãs
Líquido beijo à morte, êxtase, o sono
Languidez sensível da luz
Transnascem Lilith, Vênus, Hera, Ísis, Iansã
Dança eterna da retração do mar e constelações
Orvalho da relva e fel purificador
Triângulos realinhados entre
sedas das noites e manhãs
Poesia em pele, lírios d’água diluídos no olhar
A beleza da magia sob o ventre de heroínas e vilãs
Simbólicas Marias, Helenas, Cleópatras, Capitus
Do desejo à perseverança louca e sã
Simples, arrojada, sensual, Amazona
Flora e néctar da natureza
Centelha de entidades primevas
Recria povos, a passagem das nações
Reencarnam Hatshepsut, Hipátia, Safo, Cristina e Joana
Sensível sobreposição de pétalas
Impassível, composição de quartzo, cristais e obsidiana
Ao teu poder, do pó revive-se os vórtices
dos átomos e do tempo
Inexorável espaço sobreposto das cores e sensações
Metamorfose de Quitéras, Inannas, Fridas e Iracemas
Relicário da vida
Sagrada, amoral, mágica, vã
Rainha do destino,
entre punhais e balanças
Tuas taças de sangue e licor
Desenham e invocam a conjuntura humana
Revivem-se Simones, Clarices, Virginias, Conceições e Hildas
Do fim ao começo
Espiral da atemporalidade
Metafísica suspensa dos diversos firmamentos
à terrena carnal realidade,
Passagem de mundos
Encerra-te, gera e flui a semente do feitiço,
A conjuração física do passado e do amanhã
(Essa prosa poética disfarçada de poema começou inspirado em Tropicana do Alceu Valença e depois se entrelaçou com minhas recentes leituras da Hilda Hilst. Nesse flerte, juntei um vislumbre que tomou a forma de transformar a junção em reconto próprio da diversa feminilidade. Dos três e outras referências inconscientes da Musa, nasceu essa singela narrativa do viver e da força feminina ^^)