Horas mortas ( uma leitura sui generis de Ronald de Carvalho)

Nesta hora de sol opaco

Palmas paradas

Pedras inertes

Escuridões

Tremores

e temores

Eu ouço o choro do Brasil!

Gritando, vociferando!

Escolas à deriva,

hospitais perdidos em dores,

fábricas silenciosas que, desfalecidas, não mais martelam,

não rangem,

não apitam!

Guindastes mudos,

estradas que não conduzem

a lugar algum.

Tumulto de ruas, vaias, gritos sem eco!

Vozes de todas as raças que clamam em porões sociais.

Nesta hora de sol opaco eu ouço o Brasil!

Todas as tuas lamúrias, Brasil, explodem no ar…

as lamúrias dos excluídos pelos cantos da pátria,

as lamúrias dos jovens pelo destino incerto,

as lamúrias dos pais pelo infortúnio da perda,

as lamúrias dos idosos pelo descaso insano,

as lamúrias dos coronéis, nas suas varandas, pela perda do ouro!

Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol opaco

palmas paradas

pedras inertes

escuridões

tremores

e temores

é o choro inconsolável dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,

onde dorme, soluçando,

descrente,

o brasileiro de amanhã!

Anna del Pueblo
Enviado por Anna del Pueblo em 22/05/2016
Código do texto: T5643287
Classificação de conteúdo: seguro