Cena da cidade grande

Longe, vêem-se as luzes.

Longe, ouve-se a sereia.

Detrás da ambulância que serpenteia.

Deus, somente és Tu quem os conduz!

Sete motoqueiros e a garoa fina,

Sete faróis,

Sete buzinas,

Abrem caminho no asfalto.

Não menos que o relance do desatino,

No chão jaz o homem,

Às vezes ainda menino,

Provoca o atraso,

Muito mais que o sobressalto.

Não dê seta,

Nem mesmo à esquerda.

Não cruze a faixa,

Aceite a perda.

Porque eles vêm de lá.

Cortam entre segundas e primeiras,

Detrás da ambulância que serpenteia,

Dentro, é a desesperança moribunda.

Porque eles vêm de lá.

A entrega é célere.

A pizza é quente e célebre.

O cortejo é lúgubre.

Vê-se dentro.

Encerrado entre vidros e filmes,

Parado sobre as rodas do tédio.

O câmbio automático,

Não mais que um remédio,

Alivia, consola, redime.

Vê-se dentro.

O rádio cintila lá dentro,

Em luzes, a canção primeva e triste.

De inveja, o verdugo vê lá fora e persiste.

Finge desassombro e insiste

Que não inveja a vida,

Mas a liberdade e o tempo.

Juiz Holden
Enviado por Juiz Holden em 18/02/2017
Código do texto: T5916979
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.