FLANELINHA
No centro, ambulante de uma cultura
Para alguns vazia,
Um artista faz sua vida...
Manobrista das missões impossíveis
Um equilibrista das horas improváveis
Em meio a uma expressa avenida
De relógios apressados
Ele segue em uma jornada diária
Fazendo graça pra quem não quer rir
Malabarista de pratos vazios
Ele grita em silêncio
E ninguém se importa
Sustentado pelas moedas do desprezo
Ele passa flanela
Fitando o mal humor de muitos,
Observando a gratidão de poucos...
Feliz?
Feliz por ser livre
Fotografando cada pôr-do-sol
Como se fosse o último
E celebra cada vez que ele nasce
Como se fosse o primeiro
E vai por aí dançando a invisível melodia
De tempos modernos
Da desigualdade social.
Do pressuposto bem-estar social
Sua recompensa por todo esse ato teatral
É a alegria
De simplesmente estar vivo
Mesmo que seja em meio à avenida
Pois segundo o próprio
A avenida é tudo que ele precisa
E assim segue sua sina
Em limpar os para-brisas
Para desembaraçar a vista
De quem perdeu o caminho da paz.