Ônibus - 3° Ato

No ponto de ônibus,

pego um.

Sem destino, sem rumo.

Pego a primeira barca que vejo.

Como de costume,

o vagão estava cheio;

pessoas sem compaixão

lidando com seus problemas imortais.

Sempre aparecerá outro,

eles sempre pensarão em resolver,

em seguir em frente,

mas nunca com um destino traçado.

"Dobre as metas, capitão."

Encontro meu lugar meio a multidão.

Desconfortável,

planto-me e invonlutariamente

olho para janela.

A princípio,

seria uma reação automática

e sem vida.

Mas começo a olhar.

Melancólico.

Não me sinto bem,

mas ainda tenho que chegar ao ponto-final.

Vejo uma batida,

carros e motos perdidas,

acidentadas,

pessoas sangrando.

Foram para um lugar melhor.

Não me abalo,

não tenho reação.

Vejo um assalto,

senhoras chorando,

assustadas.

Os bandidos saíram em disparada, sem rumo.

Mas a culpa é das senhoras.

Não me abalo,

sem reação.

Presencio um assédio

dentro da locomotiva.

Um homem velho de barba,

uma jovem;

não entrarei em detalhes,

"pesado de mais".

O homem foi expulso pela porta de trás.

Ele pega outro ônibus.

Sem abalos e reações.

Vejo um cavalo correndo

pela rua.

Não há cavalheiro.

O vento em seus cabelos,

em seu rosto.

Lindo.

Ele acelera e some

no campo de carros.

Aquele cavalo era livre.

Ainda petrificado em meu lugar.

Anoiteceu.

Sem sentimentos,

não há reais motivos para continuar

sendo transportado,

mas a verdade é insurgente.

Tenho que chegar ao meu destino.

Tenho que ganhar essa corrida.

Vejo todos os problemas

pelo vidro.

Ao meu redor,

ao meu lado.

Presencio.

E ainda sinto o nada.

Marquês de Verona
Enviado por Marquês de Verona em 15/04/2017
Código do texto: T5971618
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