SOU TANTO FAZ: ORA MENOS, ORA MAIS
 
04/01/2018 10:01

 
Somos agregados,
no entanto,
preferimo-nos separados.

Somos todos iguais,
no entanto,
me queres menos e nem sei se te quero mais.

Somos todos solidários,
no entanto,
ora sou bom companheiro, ora lobo solitário.

Com meus olhos não me vejo,
no entanto,
ao despertar, só os abro pros meus desejos.

Minha língua, sem querer,
diz o que eu gostaria que você, calada, ouvisse,
no entanto,
me irritaria, se você repetisse o que eu já disse.

Meus ouvidos escutam
coros, choros, agouros e desaforos,
no entanto,
nem me comovo, escutaria tudo de novo.

Meu coração,
ora é de pedra, ora é mole,
ora é sístole, ora é diástole,
pedindo perdão ou reconciliação,
mas eu só sei te dizer "não".

Minhas pernas fortes,
quais metálico compasso,
traçam os pontos equidistantes
do meu meio circundante,
no entanto,
passo a passo, vem o cansaço,
e se revelam cambaleantes.

Meus braços, quando quero,
abarcam todo um hemisfério,
no entanto,
quando menos espero,
só é a mim que abraçam:
atitude de "João sem braço"
... ... ...
Fomos feitos assim:
ora "não", ora "sim",
ora "bem", ora "mal",
ora "pedra", ora "pau"...
Tiro por mim,
que me acho sobretudo doce,
no entanto,
pra você:
"o que era doce, acabou-se!"
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 07/01/2018
Reeditado em 22/01/2018
Código do texto: T6219884
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