MEU SERTÃO

Sonhei que todos iam morar lá

Onde minha vó morou

A noite conversar

E ao luar observar

A lua e as estrelas

Somente falando besteiras

Rindo, vendo à vida passar

Sonhei la no alpendre

Dando boa noite pro matuto

Vendo o vai é vem do gado

Nesses momentos astutos

E no sábia os açoites

Do galo campina ao lado

Que linda eram as noites

Até o cantar dos galos

Sonhei com o papai

Tomando uma cerveja

Gelada ou quente, qualquer que seja

Da memória nunca me sai

O Ivo todo sisudo

Brigando com todo mundo

O Hélio escondido

Fazendo bolinagem

Pedro Paulo atrevido

Fazendo traquinagem

O Carlão contido na cerveja com medo

Pensando na viajem

Pois ia abrir a agência

Segunda-feira bem cedo

Sonhei com toda essa gente

Sonhei com a magrinha

Escondendo espoca bucho

Também sonhei com a merinha

Com a canadense que é um luxo

Sonhei com o cabral

Sentado fazendo cruzadas

Mário Sergio derrubando o pau

Nas terras mais afastadas

Gonçalves assobiando la longe

Da Marta que ele se esconde

Já colocou o jantar

E ele perambulando

Pelas casas à conversar

Assim à vida ele vai levando

Sem horário se importar

Sonhei com moço Tasso no belo alto

Tentando tia Ilma acalmar

Sonhei com o veim

Passando na caravana

Levava o Paulim

Ia lá pra Acopiara

Que o Ivad lhe chama

Prum forró na beira da estrada

Sonhei com dona Francisquinha

Esperando tio Pedro

Que saiu de casa bem cedo

Pra vender uma carga de farinha

Sonhei com o sinhozinho

Falando pelos cotovelos

Das historias dos vizinhos

Do açude e do pesqueiro

Sonhei com o seu cuca

Com Ze Campo nosso vaqueiro

Com sapo e mutuca

Boi Brasil e o cavalo campeiro

Sonhei com João Sinhor

Tocando no pandeiro

Do cactos sai a flor

O espinho vem primeiro

Sonhei com tia Amélia

Com a filha Margarida

Com a belissima Célia

Minha prima querida

Sonhei com o Silvério

A Jessé e a Betânia

Aquilo sim era Império

A nossa mesopotamia

O sertão é uma vida

Que carrego ao meu lado

O ponto de minha partida

O nosso pão encontrado

Ele é lindo e confortante

Para nós seres andantes

Correndo como os riachos

Montando nossos cachos

Vivendo nossas vidas

Das lembrancas queridas

Da fazenda cajazeiras

Nossa morada primeira

O ponto de intercessão

Da nossa família

La pras bandas do sertão

Seguindo as mesmas trilhas

Dos nossos antepassados

Que sempre estão ao nosso lado.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 25/07/2018
Código do texto: T6400303
Classificação de conteúdo: seguro