A beleza da desobediência

O poeta não é anjo nem louva-a-deus

traz o saber de atestar e dissuadir

no ofício de espalhar surpresas

quando o rito fixa seus disparates.

Superlativo único do zero maravilha-se

em desatinos e conflitos quando a rima

escraviza a alma sem a revelação da luz.

A água é transformada em pedra pela

saliva da veneração. O odor dos jardins

pelas esquinas frenéticas dos cantares.

Pela boca, os barcos a correr em mares

nunca d'antes velejados. A sede do caos

quando o fogo esplêndido é a inocência

da livre vontade posta sobre fios de tear.

O veneno da arte é uma forma de iludir

a lavoura que não reverencia o lavrador

na efervescência da profanação sagrada.

ubirajara almeida
Enviado por ubirajara almeida em 05/01/2019
Reeditado em 05/01/2019
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