PUM DE PÓ
Procurei na sucata
O que restou da minha pátria
Em baixo do lixo
Por capricho
Encontrei uma lata
Das antas
Bud, berlotas e camarão
Cheia de sonhos
Voei pro Maranhão
Viajei pros pampas
Velejei no lajeiro
Fui na floresta primeiro
Dei de cara com a caipora
Ela sorriu e foi embora
Na bosta do zebu uma flor
Foi o que da roça restou
Não sei se era noite, se era dia
Tinha gosto de agonia
Viajei
Riscando o velho chico
Na bandeira fui ao pico
Ao redor da lagoa dos patos
E nada restou dos meus traços
Nada encontrei
Na terra plana por fim o abismo
Rodeada do comunismo
Deixando a nação cair no escuro
Cadê os vermelhos
Onde estão os pentelhos
Vi o povo gritando, em apuros
A fome lambendo o cuspe
O dia estava escuro
Em Angra
Vi o capitão em sua lancha
Tecendo tranças
Vomitando veneno
Sobre o povo pequeno
Índios lutando com lanças
Foguetes habitando Alcântara
Labaredas que a amazônica alcança
Onde minha naus não apoitou a âncora
Na praça coreografia estampada
Apontando o dedo
Na favela a população calada
Com medo
Sofrendo preconceito
De manhã muito cedo
A lama desse o moro
Leva todo o contorno
De tudo, da vida
Depois cachorros procurando
Sobreviventes da ferida
De que não estava nos planos
Da pobresa reprimida
Cadê minha moradia
Era bem ali
Hoje só corvadia
Põem um palhaço do dia
Solta um pum de pó
A burquesia sorrir
Prova desse jiló
De manhã o sol aparece
É o que resta, as preces........
PUM DE PÓ
FRED COELHO 2020