ROSTOS ROTOS

ROSTOS ROTOS

A dura tarefa da vida:

transformar em poesia

estes rostos queimados

pela exposição ao sol inclemente,

ressecados pelo frio cortante,

marcados pela fome devastadora.

Rostos rotos,

envelhecidos, esculpidos

pela existência rude,

pela experiência

com a densa e perigosa floresta,

com a ríspida montanha,

com a pedra bruta,

com o sol escaldante,

com o sal dos mares bravios,

com o frio polar siberiano.

Rostos dos Andes, dos desertos,

das savanas, dos sertões, das estepes,

das ilhas mais remotas e distantes.

Rostos humanos dilapidados

pelo sofrimento,

que aos olhares mais atentos

amargamente revelam

o segredo da luta diária, intensa, renhida:

rostos que definem uma história,

a geografia mais desumana.

Curvo-me respeitosamente

diante destas vidas simples e humildes

que passam pela Terra

anonimamente,

deixando apenas o livro da vida.

NELSON MARZULLO TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 22/04/2020
Reeditado em 22/04/2020
Código do texto: T6925025
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