DESATANDO OS NÓS
Me desfiz das amarras,
joguei ao mar tudo que pesava em meu corpo,
embrutecia minha calma, tudo.
O barco agora está leve, navegando em águas mais serenas,
já não me ocupo com o que não vale a pena,
não me precipito mais em mim,
olho com zelo o tempo que não volta.
Não, não, já não fico nervoso à toa,
não brigo mais por coisas banais,
furei a proa do velho barco e deixei afundar: a vaidade, orgulho, ego...
Não guardo mais lembranças ruins
que ficaram marcadas em mim por tanto tempo,
sepultei o ódio, mau humor,
o perfume que hoje respiro vem de outra flor,
brota da água suave que desintegra a rocha gradativamente;
nasce da noite que desaquece o sol lentamente.
Já não me interessa a velha imposição de vencer, quero viver,
busco outra atmosfera de pensamento,
me cansei desse ar pesado de estar sempre com razão,
não vivo mais essa obrigação fabricada pelos que só conhecem a calçada da fama.
Já não trilho essa ponte que me leva para o horizonte do nada,
sigo noutra estrada.
Incinerei os degraus que me conduziam direto para o topo da soberba,
não ando mais de braços dados com o sentimento enraizado do ciúme,
desejo que o braço do coração afague o perdão.
Não quero nenhum caso de amor com a moral,
nem um piscar de olhos.
Joguei muito lixo fora,
mas ainda restam muitas trilhas nessa ilha de descobertas.