Saudações Mascaradas
Belém, 25 de julho de 2020.
Saindo pro pão, olhando pro céu
rua vazia que marcava às sete
um raio de luz que não era ao léu
reparando o cometa que assim se repete
a outra pessoa caminhava na ânsia
não sei se era de conhecimento
mas provável infeliz que sou a ignorância
um desvio, a calçada, um momento
Eu pensei em gerar um bom dia pra vizinha
como se fosse uma ópera de Caruso
ou um quadro de da Vinci
Ecce Homo que enxerga me diz tudo
sou o espelho de tudo que está aí
Até pensei em conversar sobre a manteiga
ou o perfume que saía das flores da escola
vem de Soure ou do Jasmim
mas Schopenhauer me calibra o humor
sou o rabujo de tudo que está aí
Saindo de tarde documento imprimir
rua vazia que marcava às três
uns jovens corriam nas suas faces um sorrir
pareciam triunfantes da sobrevivência da vez
avaliando o sol a queimar o asfalto
e queimando toda sorte de planta
queria sentir-me jovem de um salto
onde o espírito me empolga onde canta
Eu pensei mandar uma boa tarde para os moços
como se fosse uma toada de Bob
seja Dylan ou Marley
mas o Zezé de Amargo me convence
sou a trova de tudo que está aí
Até pensei na conversa que falava de gols
lances bonitos e jogadas de craque
de Sócrates ou de Juninho
mas o Menino Ney me derruba
sou o penalty de tudo que está aí
Saudações mascaradas
Saudações revoltadas
Saudações indignadas
Saudações saudosas do que é essencial
Até pensei em dar boa noite para a pessoa
que abria a minha porta e dizia
o amor está aqui
averiguei na minha estante Riobaldo
no altar com Diadorim
Quando a águia alça voo na estrela brilhante
não me cabe o diabólico só o que o junta
o simbólico que há em mim
a natureza Guajajara e Arucará
faz Abel enfim vencer Caim