DIÓGENES DO RIO

DIÓGENES NO CENTRO DO RIO

Pensando em Manuel Bandeira e Clarice Lispector

Na Rua Alcindo Guanabara,

centro do Rio de Janeiro,

sob a marquise, ele dorme,

acompanhado de seu cão amigo,

companheiro de fome,

de frio e de exclusão,

enquanto a cidade se movimenta

desatenta,

sem coração,

com incerta direção.

O vento frio da noite,

com desumano açoite,

congela sua alma,

varre seu nome,

sua existência:

é pedra qualquer

disposta à inevitável erosão.

Já não é mais um homem

para aquele que passa?

Não é mais um cidadão?

O bicho,

metáfora do lixo,

é um homem,

um ser humano em desgraça

vivendo em seu mundo,

em seu submundo,

em sua terra sem nome,

- a dor da fome o consome -,

em meio à correria

fria

da petrificada multidão.

NELSON MARZULLO TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 28/06/2021
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