Versos com tempestade
Quando os boletos não estavam pagos, as paixões também não eram
correspondidas, divago, quando tentei vencer a qualquer preço, me adiantando a todos no começo, em todas as corridas, as minhas quedas foram as mais suicidas.
Assim aprendi que a ética, a mudança, ocasionalmente a derrota, são características da vida.
Por vezes torta, permanente e ciclicamente, em uma alternância, desde a mais tenra infância, um abrir e fechar de feridas, que para cicatrizar, não se pode viver a cutucar.
Não espero o futuro, em cima do muro, faço escolhas, evito ser omisso, há um custo muito alto, para quem faz isso.
Tacaram fogo no monumento ao borba gato, a direita, de ódio, quase foi ao infarto, a estátua de um assassino de índios e negros, em um país dilacerado por duas pestes, pelo genocídio, pela fome e pelo desemprego. Tanta exaustão psicológica, tantos atentados contra nossas humanidades e à lógica, de verdade, momentaneamente alteraram as prioridades.
É preciso mudar de lugar, para um melhor horizonte, abrir o coração na travessia das pontes, para se purificar, sem orgulho, sem misoginia, sem homofobia, sem racismo.
Se não mudarmos o sentido, não mudarmos o que é inumano e antigo, não mudarmos "o acusar", não mudarmos de idéia,
Teremos a ilusão de panacéia para a universal dor, daqueles que estruturaram suas vidas doloridas, na ausência do afeto, do amor, no imediatismo do sexo, nos gozos precoces e perplexos, presos a um enregelante hábito do pavor de mudar, o ser anti-socrático, que só quer se anestesiar.
Enquanto alguns poetas escrevem seus versos, com a luz das estrelas, objetivando tê-las, o amargo desses dias, sangra os meus versos cheios de tempestade, a libido asfixiada de um abade.
Mas, a vida é dança ligeira, como o ritmo dos tambores da capoeira.
Se sem chilique, um dia o sentido da vida alguém entender, por favor me explique, quem sabe eu assim consiga não enlouquecer.
Aprendi ser muito importante florescer, com aquilo tudo que for bom, como por exemplo, a empatia, a bondade amorosa, o perdão, a compaixão.
O sábio não alimenta ressentimentos, não permite que esse monstro o habite, não lhe faz convites.
Sabe que esse sentimento, de boa maneira a ninguém alcança. Assim, elabora o perdão, porquê é ele a melhor vingança.
Barthes.