Abstenção do Desespero

Incógnita, amante da poesia.

Ando só pela vida, venerando o vazio das ausências.

A saudade crucia do homem que ainda não conheci.

A pele marcada, o olhar cansado, a irresponsabilidade sentimental persistente e o latido do cão na rua.

O que me desanima?

herança recheada de detalhes ?

A angústia refletida como paixão ?

A falta de um sonho novo, de uma quimera.

Sou por si própria o lugar em que me descubro mais mulher.

E desejo estar, enfim, errada sobre esse mundo.

Melancolia talvez, terra que desperta o valor das coisas pequenas.

Uma poeirinha no canto de um móvel

A desordem dentro do meu quarto.

As taças sem licor e eu sem sede.

A desordem no âmago do meu peito.

O corpo não suado.

O beijo não beijado.

O plano mal traçado.

O verso ainda guardado para dedicar a minha próxima dose momentânea de felicidade.

Melancolia, palavra nua.

O que somos nós perante o silêncio.

Multidão a esmo, saga e dor.

Melancolia, abstenção do desespero.

Mississipi
Enviado por Mississipi em 27/01/2022
Código do texto: T7438834
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