Abstenção do Desespero
Incógnita, amante da poesia.
Ando só pela vida, venerando o vazio das ausências.
A saudade crucia do homem que ainda não conheci.
A pele marcada, o olhar cansado, a irresponsabilidade sentimental persistente e o latido do cão na rua.
O que me desanima?
herança recheada de detalhes ?
A angústia refletida como paixão ?
A falta de um sonho novo, de uma quimera.
Sou por si própria o lugar em que me descubro mais mulher.
E desejo estar, enfim, errada sobre esse mundo.
Melancolia talvez, terra que desperta o valor das coisas pequenas.
Uma poeirinha no canto de um móvel
A desordem dentro do meu quarto.
As taças sem licor e eu sem sede.
A desordem no âmago do meu peito.
O corpo não suado.
O beijo não beijado.
O plano mal traçado.
O verso ainda guardado para dedicar a minha próxima dose momentânea de felicidade.
Melancolia, palavra nua.
O que somos nós perante o silêncio.
Multidão a esmo, saga e dor.
Melancolia, abstenção do desespero.