Quem sou?
Para uns preto
Para outros branco
A quem diga até que sou pardo
Não quero ser pardo
Pardo é papel
E eu quero ser gente
Por que quer me classificar?
Me ensine para que eu mesmo possa me identificar
Na favela, todo mundo parece ter a mesma cor
Cor que beira à indiferença
Por vezes, o Estado com toda truculência
Se sente o capataz autorizado a me castigar
Pobre não tem cor
Pobreza é condição
Que faz homem, mulher e criança
Deixar de ser cidadão
Afinal vê por vezes seus direitos arrancados
Seu nome ser marginalizado
Sua história contada por outros
Que não conhece todas as versões
Que não sabe as reais condições
De precisar se velar de quem fato é
De saber que o sonho de ser um dia bombeiro, bailarina e professor
Hoje se esvai com mais um não
Para esse currículo em minha mão
De quem nunca estudou
Mas já se acostumou
Que sonhar é para poucos
Pois o sonho reflete a esperança
Que um dia a necessidade me arrancou.