Olhos que condenam

No espelho, fico a me olhar,

Começo a chorar,

Não dá para entender

Que tanto horror

Alguns teimam em ver.

O que tem na minha aparência

Que te faz me temer?

Será que todo menino

Na adolescência,

O pai vai esclarecer:

_ Abaixe a cabeça,

Não encare ninguém,

Identidade no bolso

E a chave também.

Se entrar numa loja,

Prefira o corredor lotado

Se gostou de alguma coisa,

Veja, não toque, tome cuidado

As mãos deixe livre

Para aparecer.

Ao policial, seja gentil

Não és mais um civil,

És um menino de cor.

Para alguns, tua pele

Não depõe a teu favor.

Se morar na favela,

Já está condenado.

Nasceu preto, pobre,

És desconsiderado

Julgado, culpado

E à morte sentenciado.

Há quem diga

_ Não é bem assim

Racismo no Brasil,

És desculpa para cotas conseguir.

Que jeito é esse

Com o qual olham para nós?

Em lojas, bares e shopping

Nunca estamos a sós,

São olhares o tempo todo a nos vigiar.

Nessas horas me lembro,

Dos tempos de criança,

À porta, feliz a sorrir,

Finalmente sozinho à escola

Eu passaria a ir,

Minha mãe à janela rezando com fé,

Para seu Deus escutar:

_ Deus te abençoe, meu filho!

Que voltes vivo ao nosso lar!

Mari Velasco
Enviado por Mari Velasco em 07/08/2022
Reeditado em 03/09/2022
Código do texto: T7577030
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