Memória da Calha do Rio

Gurupá, 18 de agosto de 2022.

Éramos um barco passante.

Relativo era o tempo de quem estava na beira nos admirando

Na embarcação E.F, as horas eram outras.

De uma parada pra receber o tambaqui

13 quilos não de criatório

Mas da pura criação, pescado.

- Vim aqui fazer negócio no peixe!

Disse o pescador decidido.

De outra parada para receber as santas douradas

Época delas.

Redes no Rio-Mar.

Homens em suas rabetas, camisas de manga comprida e bonés

Pescam para ter carne, renda e dignidade

Sob o Sol do Equador.

Conversas sobre açaí, festejos e guerrilhas cotidianas na proa do barco

Mães e filhos tomando sorvete

Quentura cada vez mais quentura.

Senhores falando de dinheiro

Mas o que lhes importa mesmo é o tal sossego.

Sossego, sabe?

Desses de singrar os rios

De contar periquitos no céu

De sorrir para as crianças faladeiras

De conferir camarão nos matapis

De esperançar pelo próximo pretejar do açaí nos cachos

De sentir a mata escurecer e garças quietar nos galhos

De ter uma casa com trapiche, telha de barro e vento na rede

Quando chegarem da mucura.

De ouvir histórias para substituir o celular.

Sossego, sabe?

Desses de dar vontade de escrever

E reler estas linhas no futuro como uma boa memória.

Lembrança de um final de tarde na boca do Tajapuru

Ali, cabocla, ali parente,

Na dobrada com o Amazonas.