Ode e não ódio aos corpos

Recebi um convite

Uma amiga vai casar.

Mais que amiga, uma querida

Me convidou para apadrinhar.

Serei sua madrinha

Pela primeira vez em minha vida

Nunca poderia imaginar.

Mas como entrar

Nos vestidos de magrinhas

Que as lojas estão a disponibilizar

Como se somente estes corpos

Tivessem o direito

De posição de destaque ocupar.

Sigo buscando,

Ao menos, um vestido encontrar

É a vigésima loja,

São os mesmos olhares,

Julgos e frases vulgares,

Naqueles espaços,

Gordofobia encontrou seu lugar.

Continuo com preconceito esbarrando,

Gordofobia encontrando,

Devido à pressão

A depressão chegou para ficar

Pensei que talvez um remédio

Até o casório pudesse tomar.

Lembrei-me de uma amiga

Que fazia de tudo para emagrecer;

A doença logo chegou,

Tempo depois veio a falecer.

Outras tantas mulheres

Buscando o dito padrão social;

Vivem mal, maltratando-se

Na busca do corpo ideal.

Como se o "padrão",

Fosse a solução

Para acabar com a solidão

Que mesmo amando

E sendo amada,

Insiste em permanecer.

O problema é a falta de estima

Que desde menina

Vive a sofrer.

São tantas comparações

São sempre esses malditos padrões

Que em frases, piadas e olhares

Nos arrancam o chão.

Retiram nossos pilares

E desistimos até da nossa vaidade,

Tentando preconceito

Não vir mais a sofrer.

O casamento está chegando

E eu aqui nada encontrando,

Dá vontade de morrer...

Como dizer a minha amiga

Que não encontro um vestido

Por em mim, nada caber?

Esse mercado cheio de padrões

É perverso, usam o mesmo molde

Sempre o mesmo modelo

Nem querem saber.

Roupa para gordos

Devem parecer

Para pessoas idosas,

Como se a gente sexual

Não tivesse o direito de ser.

Vou permanecer na luta,

Não quero parecer enxuta,

Preciso de uma roupa

Que meu corpo venha prestigiar;

Não com o vestido de "magrinha",

Quero que minha roupa de madrinha

Curvas, formas, abundância

Não esteja a negar.

Nesta festa, serei bandeira

Dos corpos como o meu,

Que têm a sua beleza e importância

De maneira que teu preconceito

Não nos impeça

Que em espaços de destaque,

A gente chegue a desfilar.

Mari Velasco
Enviado por Mari Velasco em 02/09/2022
Reeditado em 02/09/2022
Código do texto: T7596537
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