Apelo à dúvida

Você me chamou

Eu não quis nem saber

Segui o pulso

E o curso do que senti

Parti, assim, sem pensar

Só por querer

E nem sabia se sob os meus pés

Existia em que firmar

Minha decisão.

E vi que o porto

Sou eu, só eu...

A estrada...

Sou eu, só eu...

O caminho a seguir

É o que me faz ir

E nem quis mesmo saber

Por que não sei...

Você acenou

Para mim

Eu nem apelei

Resolvi soltar as asas

Voar em mim

Por mim como sou

E seguir a estação...

Eu abri os olhos

E me lancei

Na calma turbulência

Da decisão.

Era difícil

E o meu precipício

Era somente eu.

Caí de mim

Para dentro de mim mesmo

Num apelo

De clemência.

A aparência nem doeu

Mas eu, eu que nunca fui

Estava sendo diluído

Pela dúvida

E o anseio da descoberta.

Eu voei

No lance

De braços abertos

E descobri que na viagem

O melhor da coragem

É o ato do desconhecido

De buscar a si

No reflexo da sombra.

De olhos abertos

No espaço

Fui percebendo

Que a voz do chamado

Era o próprio eco de mim

Me chamando

Para o devir

De atravessar o riacho

E abraçar esse eu

Do desconhecido.

Marcus Vinicius