Binóculo
Sob o binóculo do outro
E possível ver uma menina tímida
Cheia de apelidos
Na infância
Retraída e esquisita
Com dificuldades escolares
E de comunicação
Exigente e esforçada
E com mania de distorção
Amante da natureza e cemitérios
Amiga e presente em qualquer situação
Sempre amou muito brincar e ler
Do mais comum ao inusitado
E viajar na imaginação
Na adolescência uma ET
Que se trancava em seu casulo
Fazia viagens em sua nave
Percorrendo trajetos filosóficos
A beata, rezadeira,
que tinha a grande mania de
no lugar dos outros se colocar
Sensível ao extremo
Nao se importava em ser humilhada
O que importava era ajudar
Ainda que isso a machucasse
Ou viesse a pertubar
Na juventude
descoberta de novos mundos
E jogos distintos se colocou a jogar
Desbravando estudo e trabalho
Dentro e fora de si
Brava e destemida
Se embrenhou por matas escuras
E se encarou timidamente no espelho distorcido
Vista com superpoderes
Mas no fundo extremamente frágil e vulnerável
Confusa e difusa
Brincando de o mundo e as emoções desvendar Marcada pelos versos que rabisca
pelas músicas que escuta
e pelos livros que lê.
Na maturidade junto a maternidade
Entre perdas e ganhos
Descobriu sua força maior
Sangrando e batalhando
Se superando e buscando cada dia ser melhor
Não para os outros, mas pra si mesma
Holofotes não lhe atraem
Prefere o anonimato
Neste multi verso diverso
Aos mais próximos dedicada e zelosa
A chamam de estudiosa, estranha e brava
Guerreira, louca e ansiosa
Criativa, intensa e bem humorada
Fascinante, sedutora, misteriosa
Cautelosa, agitada, e carinhosa
instigante e perspicaz
E ela é um pouco disso tudo
E muito mais
Por que cada dia uma nova versão
Dela mesma se faz
Ana Lu Portes, 22 de setembro 2023