Homem-objeto.
Fizeram-no crer que ele deveria ser moldado, cristalizado.
Na testa o código de barra.
No corpo a pressão de ser posto na prateleira de número 14,
os braços comprimidos dentro da caixa com ar rarefeito.
O mundo é mesmo grande, pensou.
E eu sou pequeno.
Dilatou os olhos na tentativa de ver os outros.
Pequenos como ele.
Produtos de consumo.
Avistou a mulher de blusa azul.
Já a tinha visto quando ainda estavam no estoque,
esperando para serem encaixotados.
Dela só se avistavam os olhos, numa minúscula brecha,
feita para o provimento da respiração.
Estavam esbugalhados os olhos da mulher.
De medo, de fúria, colapso nervoso; não daria pra saber.
No exterior de sua caixa estava estampado em letras
garrafais, coloridas em vermelho sangue:
Telefonista.
Fechou os olhos.
Qual será o meu preço?
Qual será o valor de um carteiro nesse mundo?
Ouviu o barulho das portas sendo abertas.
"A hora da barganha começou, que comecem os negócios".
Sabia que a compra seria rápida, fulminante.
Afinal, a sua validade não era lá essas coisas...
Logo ele pereceria pela falta de água e alimentos
se não fosse "resgatado".
Sou um produto perecível.
PS: Continua, não sei quando.