VORAZ
Viajo de certo por terras áridas
Em passos firmes rumo a uma liberdade que não conheço,
tem que toda liberdade ter então o seu preço,
pois se o voar é longo, ser livre é breve,
posto que sua conquista é puramente efêmera,
um momento, um sorriso, uma historia,
e logo vê-se que os ponteiros do relógio
apenas marcam as horas no espaço vago do tempo
mas não deixam registrado em seu corpo
o segundo ou o momento que vivemos
Jogar seus passos em terras livres
Esbanjar sua força como um leão domado
Que se joga contra as grades de seu cárcere bem tratado,
ora com o desejo de sua fuga inevitável,
ora com o medo de livre então
lhe faltar a liberdade da sua acomodação
Do prazer de se vestir sem escolher as suas calças
Do comer o prato cheio daquilo que lhe é servido
Ainda que teu paladar rejeite, mas sua escolha é livre
Ficar preso por coragem e ser um covarde vivo.
Viajo de certo então por terras desconhecidas
Num momento acanhada, noutro já destemida
Não que o medo não me atormente, não me tire o sono
Mas entre as “grades do bem” e a prisão da liberdade
Não há escolha acertada, pois se não o sabemos
Fazemos então condenados todos os atos
Que desagregam nossos valores,
ainda que ao invés de cheiro,
Estes exalem odores,
Pérfida e atrofiada visão
Que escolhem a liberdade para ser sua prisão
Posto que atrelados andam, como selas em cavalos
Servindo de repouso inútil e sendo seu próprio fardo
Pois se cavalgar é preciso, não precisa ser montado.
Jaz então a liberdade na ânsia de sua procura
Ser breve e livre então, ou ser doença sem cura
Tomar sua dose do remédio que te mantém na clausura
Como um cãozinho adestrado que rola no chão e abana o rabo
Come, anda, dorme, mas não fala, não pensa
Sóis como tal, se não usa a tua consciência
Tomando como suas as algemas da impotência
Não te admiras, não te olhas no espelho
Pois o que vê lá refletido é feio
Eu posso, eu quero, eu sou
Mas nada podes, nada queres, nada és
Pois não és livre para dizer: Sou eu.
Quem é pois tua essência, se cospes na própria cara
Joga-te letargicamente contra suas próprias palavras
Bebe no mesmo copo da concordância fútil e vil
Come no mesmo prato sentindo-se forte, viril....
Não sei se és presa fácil ou coiote no deserto,
Se morto finges a vida, ou se vivo preparas tua morte
Quêm és, quem sou?
Ando então por terras que não conheço
Livre de mim e presa desde o começo,
há então que se pagar o preço
A alma voraz e insaciável da doce sociedade,
farpas, armas pontiagudas que apontam direto em teu peito
Enquanto ri de voce mesmo, apertam tua mão de um jeito
que não te esqueça que melhor é esquecer
ser o herói, a antítese, a liberdade incondicional
Fica na lápide; algo assim como aqui jaz,
Que já passou, que lutou e que morreu.
Há ainda o frescor de terras calmas
Dentro de ti a liberdade da tua alma
Tua escolha, teu ponto de interrogação.