Calo

A noite vagueia

Sem vaga alguma

Para queixumes

Noites são feitas

Para trabalho

Nas fábricas, nas vigilâncias,

Nos bares onde outros se divertem

Vaga-lumes

De barrigas luminosas

Sugam raízes decompostas

Formigas operárias cumprem

Além do horário e função

A luz forte cega a ruiva aurora

Quando o uivo do cão silencia

O galo canta

Saltam penas aos olhos

Calar os calos dos pés operários

Calo nos ouvidos

O canto dos fieis da procissão

Andor e dor passo a passo

No mesmo compasso

O santo é de barro

O mesmo barro da criação

Dos homens

Dos bons e maus

O barro que molda santo, um dia pode quebrar

O barro do homem

Degenerar