A PERIFERIA DO ÉDEN - 54
nas favelas, nas fazendas,
nas cidades grandes
sob o sol do estio
caiam homens e mulheres
crianças e anciãos
revivendo o Triunfo da Morte;
os últimos morriam de frio,
nas ruas, nas camas,
cansados, de coma,
sem passado e sem cura;
as que vinham antes,
nas praças, nas roças,
nos barracos,desnutridas,
sem lanhouses ou presentes,
em trabalhos aviltantes;
as outras, nos bordéis,
nos partos, nos tanques,
no desespero do adutério
e dos maridos infiéis;
os primeiros, nas enxadas,
sob as marquises e sem teto,
nas máquinas, na polícia,
na cachaça e na vergonha
de serem analfabetos;
a migração para os esgotos,
o lixo e as portas
era ultrajante.
e quem pintou o quadro
sorria empapuçado
afogado em vinho
e cultura mercenária.
para derrubar e provocar
o desespero de tantos
tinha quer ser bela e forte,
e seu nome no entanto
não lembra beleza ou poder
o menino nu
que delirava entre os girassóis
balbuciou-me envergonhado:
-o...seu...nome...é...Fome...