"fazer é preciso"

Gritos...

Barulho intenso e constante...

Empurrões pelo pátio, corredores...

Movimentos rápidos para todos os lados.

Nas salas, tentam-se acomodar, aquietar.

Uma falta de não sei o quê?

Olhos brilhantes, ansiosos de curiosidade ao mesmo tempo, atrevidos.

Desejo de algo inexplicável, inexplorável.

Chamam a atenção com suas inquietações, suas desordens.

Por mais que o mestre tente atrair suas atenções, silenciá-los, é inútil.

Estou preocupado, impressionado.

Preciso fazer algo para mudar esse quadro desesperado; quase sem resposta, sem futuro.

Preciso ajudá-los a creditar, a confiar, a sonhar.

Quero conhecê-los: sorrir, chorar suas lágrimas e angústias, vitórias e derrotas.

Quero ser um amigo, um companheiro, um conselheiro.

Orientá-los a respeitar e ouvir bem os ensinamentos dos mestres.

Preciso ensiná-los bons modos: quando um visitante, professor, funcionário; entrar na sala, devem se levantar e aguardar de pé, respeitosamente.

Não arrastarem as carteiras e cadeiras e sim levantá-las.

Preciso ensiná-los que antes de qualquer refeição, deverão lavar as mãos.

Ao subir uma escada - os meninos - sempre na frente das meninas e ao descer, também na frente.

Preciso falar que ao saírem juntos da escola, dar o lado interno do passeio para as meninas - questão de segurança e educação.

Quando algo cair no chão, abaixe e apanhe; ouça mais, fale menos.

Abra as portas, puxe a cadeira, se necessário; seja sereno, sempre doce.

Ajudá-los a entender que os objetos escolares além de custarem caros e servirem como ferramenta da magia do aprender, não devem ser usados como armas.

Preciso ensiná-los que recreio, é uma pausa para o descanso e não para promoverem badernas.

Preciso ensiná-los o civismo: a respeitar e encantar-se com o Hino Nacional Brasileiro - "nossa vida em teu seio mais amores".

Também o Hino à Bandeira - "salve lindo pendão da esperança" - e o Hino à Independência - "ver contente a mãe gentil". Como são lindos!

Preciso ajudá-los a conhecerem noções básicas de direito e cidadania.

Instruí-los na fascinante arte da conquista; das cartinhas de amor.

Preciso orientá-los a lerem grandes clássicos e poemas também: Castro Alves - o poeta dos escravos - "teus olhos são negros, negros; como as noites sem luar. São ardentes são profundos como negrume do mar (o gondoleiro do amor)" - que lindo!

Outros tantos: Tobias Barreto, Cassimiro de Abreu, Machado de Assis, Drumond, Graciliano, Rui Barbosa.

Preciso promover sarais; festivais de música e literatura.

Preciso instigá-los a participarem de intercâmbios culturais.

Preciso ensiná-los a promoverem os grêmios estudantis; quantas descobertas hão de vingar!

Preciso levá-los às serestas; sentirem o sereno orvalhar e os sentimentos aflorar.

Preciso criar as gincanas; as festas juninas - as quadrilhas caracterizadas.

Os pedágios, alavancando verbas para a formatura no final do ano.

Criar o aluno padrão e coroá-lo com bolsa de estudo.

Preciso levá-los ao teatro; divertirem com o "inverno de dante", "trair e coçar é só começar", e tantos outros clássicos.

Preciso ministrar aulas de musicalidade, rítmo e de harmonia.

Ensiná-los noções de trânsito.

Cuidar do meio ambiente também.

Promover a prática de esportes através das olimpíadas estudantis.

Levá-los ao shopping center e fazer uma pasusa na praça de alimentação.

Preciso levá-los às excursões; bienais; vernisagens.

Preciso ensiná-los a conhecer um bom vinho sem necessariamente se tornarem enólogos.

Que democracia não é sinônimo de anarquia.

Preciso ensiná-los a conhecer os sons da natureza e da alma.

Preciso motivá-los e ver o brilho em seus olhos.

Preciso falar do "poetinha" - Vinícius de Morais - "são demais os perigos dessa vida prá quem tem paixão"; Garota de Ipanema, Orfeu da Conceição.

Preciso falar do amor, também da dor.

Preciso ensiná-los a entrar e sair, sem gafes; e o que é postura e compostura.

Preciso orientá-los: meia branca, usa-se com tênis e, meia fina, somente com calçado fechado.

Comer com a boca aberta é falta de educação; mesmo que as novelas mostram o contrário.

Que o que é alheio, não é nosso.

Preciso mostrá-los que para desagradar alguém, leva o mesmo tempo para agradar.

Calar-se diante do nervosismo dos pais, é nossa obrigação.

E que existe um criador de toda essa abóboda celeste.

Por fim, se ao final de tudo isso tiver conseguido ensiná-los a pelo menos a sonhar, estarei feliz do dever cumprido; dado um grande passo para o crescimento individual e coletivo do meu semelhante.

Que Deus nos ajude e guie nossos passos.