Panela de pressão

Na volta pra casa, o aperto da condução. Pensando na solução, o aperto da idéia

Subindo a favela, o aperto do beco. De bico seco e barriga vazia, o aperto do cinto Pondo a mão no bolso, o aperto do salário. Na birosca do seu Raimundo, o aperto do fiado. Gira a chave e abre a porta, o aperto de casa. Vai cozinhar o feijão, o aperto da cozinha.Ao abrir a janela, o aperto com outra janela. Ao olhar pra frente, vê o aperto do marido na mulher. Estoura um cano, o aperto da tubulação. Inunda o chão, no aperto da sala. Sobe pra laje, a visão geral do aperto. Pensa no aluguel, e no aperto da proprietária. Olha da laje pra janela, o aperto dos vizinhos. Também dali se vê, o aperto à frente da TV. Assiste o noticiário, e o aperto da inflação. Para relaxar, o aperto do Fla diante do Vasco. Desce da laje, no aperto da escada. Deita pra descansar, no aperto da cama. Sonha com terras sem horizonte, num sonho que se expande.

Enquanto o feijão cozinha, o cheiro sobe

Uma vizinha sente o cheiro e grita:

“O l h a e s s a p a n e l a d e p r e s s ã o !”

Lírico Etílico
Enviado por Lírico Etílico em 05/10/2008
Código do texto: T1212578